Uma equipe de pesquisa vasculhou a costa do sudoeste de Portugal em 2019 em busca de sinais de como seu ecossistema mudou ao longo do tempo. Eles se deparam com uma visão surpreendente e inesperada: abelhas que foram mumificadas em caixões subterrâneos há quase 3.000 anos.
Uma série de eventos inesperados conspirou para manter essa horda indefesa de polinizadores por milhares de anos. O que quer que tenha acontecido, foi “uma noite de azar para centenas de abelhas adultas que estavam prestes a deixar seus casulos”, disse Carlos Neto de Carvalho, paleontólogo e coordenador científico do Geoparque Global Naturtejo da UNESCO em Portugal.
Estas não eram abelhas européias típicas na colméia, mas membros de um grupo chamado Eucera. As abelhas passam a maior parte de suas vidas durante todo o ano carregando no subsolo e comendo o pólen deixado por suas mães, saindo apenas por algumas semanas quando suas plantas com flores favoritas estão florescendo.
Olhando para as pistas, o Sr. Neto de Carvalho e seus colegas concluem que as abelhas provavelmente morreram repentinamente.
“Centenas de abelhas mantidas em seus ninhos pouco antes de emergirem significa que algo catastrófico aconteceu com elas no que hoje é a ensolarada costa de Portugal”, disse ele.
O time Ele descreveu sua descoberta no mês passado No Journal of Papers in Paleontology, ele apresentou uma hipótese para o que matou as abelhas presas.
As abelhas têm um poder de sobrevivência evolutivo, e sabe-se que seus ancestrais viveram na Terra ao longo desta história. 120 milhões de anos. Eles resistiram aos caprichos do clima selvagem e prosperaram onde quer que uma planta com flor pudesse ter raízes.
Mas encontrar corpos reais de abelhas fossilizados – ao contrário de ossos de tartaruga preservados em camadas de sedimentos – é raro.
“O exoesqueleto das abelhas (e dos insetos em geral) é feito de quitina, um biopolímero semelhante à celulose que se degrada rapidamente após a morte do animal”, escreveu Neto de Carvalho por e-mail.
O que as abelhas costumam deixar para trás são vestígios de fósseis ou icnofósseis – marcas congeladas na época de cadáveres, ninhos abandonados ou ativos ou tocas antigas.
Os casulos que a equipe descobriu foram forrados e selados com um fio de seda produzido pela abelha mãe. Essa corda era um polímero orgânico à prova d’água – uma combinação de materiais e engenharia estrutural – que melhorava a retenção das abelhas dentro. O Sr. Neto de Carvalho disse que esta “argamassa orgânica” protege as células do meio ambiente, protegendo a quitina sensível da atividade bacteriana e decomposição.
As abelhas são mumificadas em seus casulos, preservando sua forma corporal e características distintas. A equipe usou tomografia de taxidermia de raios X – um tipo de tomografia computadorizada que tira fotos detalhadas de pequenas coisas como insetos – para examinar as abelhas mumificadas sem destruir suas pupas protetoras.
disse Brian Danforth, um entomologista da Universidade de Cornell, que não esteve envolvido no estudo. “Se você olhar para a imagem da TC, você pode ver as longas antenas, então você sabe que é um homem.”
Determinar o que criou uma célula de ninhada fossilizada geralmente é difícil. “Existem outros animais que se enterram no solo e podem criar algo parecido com um ninho de abelha”, disse o Dr. Danforth.
Ele acrescentou que a descoberta é “o primeiro fóssil icnofóssil que realmente tem uma abelha dentro dele”.
Quanto ao motivo da morte das abelhas, os pesquisadores consideraram uma inundação ou seca prolongada que pode ter limitado o suprimento de alimentos. Mas o pólen armazenado dentro das células disse à equipe que as abelhas tinham muito o que comer (o que significa que não morreram de fome).
Em vez disso, a hipótese deles é mudar o clima.
“Nossa hipótese é que a queda repentina nas temperaturas congelantes no início da primavera foi responsável pela morte maciça no nível do solo”, disse o Sr. Nito de Carvalho.
Embora este ninho seja um exemplo de morte em massa local, também pode ser um lembrete de como as abelhas são resilientes diante das mudanças nas condições climáticas. Existem mais de 25 espécies de abelhas do tipo Eucera ainda a viver em diferentes habitats em Portugal.
“Esperamos que esta descoberta nos traga mais informações sobre como esses animais são resistentes às mudanças climáticas”, disse Neto de Carvalho. “As múmias de abelhas Eucera podem ser vistas, portanto, como uma mensagem de esperança neste mundo de caos climático em que vivemos atualmente.”